A prática diária na Polícia Civil

Por: Leandro Risi Santos
21/06/2018 29/03/2021 15:44 1091 visualizações

Há alguns dias, mais precisamente em 06/06/2018 completei um ano nas fileiras da honrosa Polícia Civil do Tocantins, exercendo o cargo por mim sempre almejado de Delegado de Polícia. É interessante a percepção do tempo. Lembro como se fosse ontem, eu dirigia meu carro, saindo de Belo Horizonte, deixando para trás uma história para começar outra ao tomar posse no Tocantins, foram cerca de 2.400km e não foi ontem, foi em meados do ano que passou. Sei que naquela viagem refletia sobre meu tempo anterior com uma boa parte da minha vida vinculada à Polícia Civil, à prática policial.

 

Isso porque, cerca de 12 anos antes, tomava posse no cargo de Detetive na Polícia Civil do Estado de Minas Gerais e durante todo esse tempo até o momento que saí de Belo Horizonte para me mudar para o Tocantins servi naquela força policial, vi suas transformações, vi a mudança nas nomenclaturas dos cargos, passei por diversas unidades policiais, vi a reconstrução daquela polícia e a tentativa de se manter o que foi conquistado e conseguir ainda mais.

 

Mas se havia algo em mim que sempre tive durante esse tempo como objetivo, sonho ou vocação divina, era exercer o cargo de Delegado, durante todo o período de minha faculdade em Direito ou durante todo o período que passei na Academia de Polícia de Minas Gerais, não havia outro objetivo para mim. E com muita luta e resistência, orgulhoso, cheguei até aqui. Mas, e agora?

 

Agora é algo que costumo chamar de a prática diária, onde dia após dia, se pratica a resistência, a luta, a paciência e o profissionalismo, tudo para entregar um serviço digno aos cidadãos que muitas vezes tem na polícia, a única ou última esperança para se parar um mal ou evitar que este aconteça. E este é o cotidiano no exercício do cargo de Delegado, um cargo de natureza mista, tanto policial quanto jurídica, fruto e necessidade do complexo sistema jurídico penal brasileiro, onde em muitos dias nada acontece, a maioria dos dias se passa dentro do gabinete, analisando inquéritos, acompanhando oitivas, expedindo ordens de missão, peticionando, relatando, vivenciando as dificuldades e melhorias da polícia.

 

Existem também aqueles dias onde tudo o que se fez faz sentido, quando se conclui com êxito um inquérito, quando se representa por uma ou várias prisões e estas são deferidas pelo juízo e cumpridas, muitas vezes se retirando, para exemplo, um homicida ou um estuprador das ruas, sabendo que por mais tenha sido apenas um grão de areia na praia, aquela ação deixará a população mais segura, pelo menos naquele dia.

 

Esse é o cotidiano do exercício do cargo, não sob o viés pragmático, advindo da cultura utilitário-capitalista que paira no mundo atual ou mesmo sob a lógica da autoridade muito comum na cultura brasileira, mas é a prática diária exercida com paixão, com a vontade inerente de dar certo, na qual o Delegado de Polícia é uma importante parte numa instituição, a Polícia Civil, e com esta vivencia as mudanças e coordena suas ações rumo a uma cada vez maior profissionalização e humanização na atividade policial.

 

E após um ano é possível dizer que esse é o objetivo maior da Polícia Civil do Tocantins e seus Delegados, a humanização e a profissionalização de suas atividades para atender mais eficientemente a população, agir contra facções criminosas, cada dia mais organizadas ou organizações criminosas que corrompem as estruturas do Estado e, principalmente, demonstrar que independente de quem seja, todos se subordinam ao império das leis.

 

LEANDRO RISI SANTOS é Delegado de Polícia, ex investigador da Polícia Civil de Minas Gerais, graduado em direito pela PUCMINAS e especialista em criminalidade e segurança pública pela UFMG.