A Vingança dos Ressentidos

Por: Delegado Roberto Assis
29/08/2019 29/08/2019 13:28 700 visualizações

A história pertence aos vencedores. Eles ditam a narrativa dela. Ao menos, assim aprendemos com nossos malfadados professores de História, todos contaminados pelo submarxismo degenerado de uma ideologia já por si totalitária e mais que provada que funciona eficazmente para matar milhões de vidas humanas. Mas... não é bem assim. Os perdedores, uma vez ressentidos, irão se reunir em torno desse rancor, reunir forças e, cedo ou tarde, contra atacar. Foi assim com a Alemanha na Segunda Guerra Mundial, com movimentos gnósticos cristãos do começo da Era Cristã, com os movimentos de extrema esquerda durante a ditadura militar no Brasil em 1964 e agora com a nova lei de Abuso de Autoridade, o novo golpe triunfal da esquerda.

 

O Poder nunca esteve somente nos cargos públicos. Ele está espalhado em toda a sociedade. E os movimentos de esquerda possuem conhecimento disso. O Poder está nas palavras, nos jornais, na mídia, nas universidades, na produção e circulação de ideias, nas Igrejas, nos livros, nos consultórios de Psicologia (sim!), nos quartéis, nas comunidades de bairro – e não se restringiu nunca a cargos públicos. Quem controla a mídia e o que ela divulga, controla o presente; e quem controla a universidade e o que ela discute, controle as discussões, ideias e pautas públicas do futuro. Bertrand de Jouvenel, no clássico “O Poder – História Natural de seu Crescimento” explica com propriedade isso.

 

A nova lei de Abuso de Autoridade está aí para provar isso. A revanche dos bandidos. Se a polícia está começando a voltar a ter prestígio junto aos órgãos públicos, ao governo e obtendo valorização ante a população nacional, e a ordem consegue voltar a imperar, eis que grupos políticos e de poder altamente bem articulados se reúnem e tentam novamente cortar o combate ao crime logo pela raiz. Uma vez aprovada a nova Lei de Abuso de Autoridade, toda e qualquer tentativa – já absolutamente meritória considerando a escassez de recursos materiais e humanos – feita pela Polícia de investigar e prender bandidos restará frustrada. E, acaso haja policiais que se atrevam ainda a prender um bandido que trafica drogas, que rouba, mata ou estupra – ousadia das ousadias! – haverá, claro, um juiz pronto para, debaixo de seu confortável gabinete com ar condicionado, soltar esse bandido, agora sem qualquer hesitação. Se, antes, ainda havia 01 (hum) Sérgio Moro para a proporção de 1000 (mil) juízes, esse um restará vencido pelo Sistema: A Lei de abuso de autoridade irá certamente punir esse juiz que, malgrado seus valores herdados de Justiça, Honra, Probidade e Honestidade, insiste em combater o crime homologando prisões feitas pela Polícia Civil, Militar e Federal...

 

Isso, claro, nos remete ao famoso poema The Second Coming do inglês William Butler Yeats, que diz: Ao melhor falta toda convicção/Enquanto o pior está cheio de uma intensidade apaixonada. Feito no início do século XX, nunca esses versos foram tão atuais quanto hoje. Na Biblía, claro, há algo parecido: Deus nos alerta de que o silêncio dos justos favorece o florescimento do ímpio. A sociedade civil organizada, que ainda não foi contaminada pela famigerada Justiça Seletiva/Social, que só defende o sequestrador que ameaça matar queimados 37 trabalhadores inocentes, deve se unir: ter convicção de que estão do lado certo contra os piores apaixonados, que defendem logo o sequestrador, coitadinho, que foi morto pelo tiro de sniper da polícia opressora que insiste em combater o bandido. E os piores não param de crescer, influenciar, ditar pautas públicas de políticas, bem ao contrário do que nos ensinavam nossos maliciosos professores de História.

 

A depender de uma minoria maliciosa, mas barulhenta e apaixonada no que faz (lembremos do poema), os policiais devem correr do bandido – este ser injustiçado pela vida que estupra, rouba e mata por falta de... oportunidades, culpa de uma sociedade egoísta e indiferente. Temos promotores de Justiça e procuradores chegando ao absurdo de afirmar em público que o policial só pode reagir depois que comece e levar tiros do bandido. Para essa gente não há nuances, não há valores a se defender. Claro que, para legitimar tal discurso horrendo, irão enfeitá-lo com muitas doses de retóricas, vestidos de ideias, fundamentação teórica rasa e quando não de falsas estatísticas mesmo – vide as mentiras deslavadas dos desarmamentistas de plantão. Muitos irão acreditar: a apaixonada intensidade do discurso arrasta uma relevante parcela da sociedade.

 

Resta indagar: os melhores irão deixar os piores prevalecer? Afinal, eles, os piores, ainda estão cheios desta intensidade apaixonada. Estaremos, mesmo, fadados a sermos jogados na lata de lixo da História, os homens de bem silenciosos, inertes, faltando a nós toda convicção, tornando realidade o cumprimento do poema de Yeats?

 

 

ROBERTO ASSIS

É Delegado de Polícia no Tocantins, escritor e possui esperança