Gentilmente convidado pela Diretoria do SINDEPOL a escrever sobre um pouco de minhas experiências como Delegado de Polícia de Carreira do Estado do Tocantins, vi-me ingressando em uma viagem no tempo de mais de 26 anos atrás, e poderia ficar tentado a discorrer sobre momentos bons, amizades, camaradagem, respeito e feitos realizados, sempre sob a ótica, muitas vezes míope, da narrativa em primeira pessoa.
Sim, ser Delegado de Polícia foi uma escolha, uma opção, muito levada em conta porque já exercia, desde 1983, o cargo de Agente de Polícia Civil em Goiânia, onde fiz meu curso de Direito na Universidade Católica de Goiás, atual PUC, tendo colado grau em março de 1993... Quanto tempo!!!
No final daquele mesmo ano, já estava junto novamente com meus pais, dos quais me vi privado da companhia por mais de 7 anos. E em Palmas, fiz minha inscrição no Certame para minha futura carreira.
Grupo de estudos, provas, exames, academia relâmpago e... Finalmente, a tão esperada posse e o início do exercício...
Enfim a realidade, que não foi das melhores, salário baixo e limitadas condições materiais e de pessoal para o desenvolvimento da função. Mas, seguimos em frente, acreditando que, por ser o um Estado novo, as oportunidades iriam surgir e as coisas melhorariam...
Infelizmente, tivemos 10 anos de desentendimentos internos na carreira que trouxeram a todos muitos desgastes e até mesmo mágoas que mesmo com o tempo são difíceis de cicatrizar.
Depois, com uma integração maior, tivemos avanços significativos na carreira, melhoria salarial, estabilidade, subsídios, e estávamos acabando com os famosos penduricalhos, tendo chegado ao absurdo de se ter criado uma gratificação que quase dobrava a remuneração, mas não se incorporava, e ao se aposentar a perda era enorme, além de ser retirada caso houvesse a abertura de uma simples sindicância... Quantos colegas foram humilhados e ficaram em dificuldades por conta desse constrangimento.
O tempo passou, chegamos ao final da carreira e... A aposentadoria, finalmente!!!
Passados 7 anos da inatividade, busco manter-me ativo, ministrando aulas e advogando, mas as lembranças dos bons momentos, e das dificuldades também, nos faz refletir se valeu a pena... E sem pensar muito digo que sim, valeu e muito.
Se mudaria algo no passado? Sim, mudaria, em todas as oportunidades em que, mesmo não agindo de má-fé, minhas ações acabaram por prejudicar alguém. Se pudesse cumprir minha missão sem a isso chegar, faria diferente.
Hoje, vejo entristecido um cenário de horror e expiação implantada no âmbito da Polícia Civil, no qual delegados que, de forma correta e séria, fizeram trabalhos dignos de elogio, sendo submetidos a procedimentos sindicantes. Quem já foi sindicado e objeto de investigação em inquérito policial como eu, sabe o quanto isso afeta.
Disse esses dias a um desses brilhantes delegados que estão sendo constrangidos, como num recado estatal para trabalhar menos, para se manter firme, agir com a competência que lhe é peculiar, porque governos passam, abusos e absurdos também, leis são criadas e revogadas, mas a instituição Polícia Civil permanecerá, e os profissionais dignos terão seu reconhecimento e seu lugar na história.
Finalizando, deixo aqui minhas sinceras homenagens a todos os Delegados e Delegadas de Polícia, de ontem e de hoje, que desbravaram, deram continuidade, consolidaram e mantêm firme essa Carreira tão importante para a manutenção da paz social.
ABIZAIR PANIAGO – Delegado de Policia Civil de Carreira de 1994/2013, Agente de Polícia Civil de Goiás de 1983/1994.
Essa é uma campanha do Sindepol/TO